venerdì

:: Ausência...


Ausência
Eu deixarei que morra
em mim o desejo de amar
os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei
dar senão a mágoa
de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença
é qualquer coisa como a luz
e a vida
E eu sinto que em meu gesto
existe o teu gesto
e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque
em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim
como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma
gota de orvalho nesta terra
amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne
como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás
a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros
dedos e tu desabrocharás
para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem
te colheu fui eu, porque eu fui
o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face
na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos
da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência
do teu abandono desordenado
.Eu ficarei só como os veleiros
nos pontos silenciosos
.Mas eu te possuirei
como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar,
do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente,
a tua voz ausente, a tua voz serenizada.
Vinicius de Moraes